Cosméticos também podem oferecer perigos à saúde
Alergias podem aparecer a qualquer momento da vida e não há como prever; é importante ter atenção quanto à validade e composição dos produtos
A pele é o maior órgão do corpo humano e um dos mais complexos. Exerce a função principal de revestimento, protegendo o corpo contra agressões do meio ambiente e funções sensoriais, além de ter o seu importante papel na regulação térmica, defesa orgânica e controle do fluxo sanguíneo. Entretanto, seus vilões, por vezes inevitáveis, são silenciosos, e podem estar escondidos onde menos imaginamos: em produtos de beleza.
O uso de cosméticos que já perderam a validade, por exemplo, pode trazer riscos à saúde, sim. Segundo a dermatologista Danielle de Brito Silva, do Hapvida Saúde, quando a validade de um produto — sejam produtos de cabelo, cremes para a pele ou maquiagens — vence, significa que os ativos da fórmula e os conservantes adicionados a ela perderam a função. “Não só o produto deixa de fazer efeito, mas também a chance de contaminação fica muito maior. Cosméticos, por si só, já são um ótimo meio de cultura para fungos e bactérias. Os conservantes são colocados na fórmula para evitar isso, por isso é importante respeitar a validade”, diz a médica.
A validade tem que ser levada a sério, embora exista uma margem de segurança de duas semanas, em média, para o seu desuso. Um cosmético já vencido, seja creme ou maquiagem, não oferece garantia da eficácia dos ingredientes empregados. Ele pode sofrer oxidação, o que acarretaria problemas como alergias, coceiras, vermelhidão, inchaço, descamações e até bolhas e queimaduras. No couro cabeludo e nos cabelos, podem ocorrer irritações, piora da caspa, aumento da oleosidade e ressecamento dos fios. No caso de produtos usados nos olhos, como rímel e lápis de olho, o perigo é ainda maior: existe risco de conjuntivite e até infecção na córnea.
Se não houver cuidado, a alergia pode evoluir para algo mais sério, infecionando a lesão e necessitando de tratamento com antibióticos. Além disso, a empresa fabricante não dará garantia ou suporte caso haja alguma reação. O contato com o oxigênio do ar, a temperatura e a luminosidade são fatores degradantes que se intensificam com o passar do tempo. Se o produto em questão estiver sendo utilizado em algum tratamento, como cremes clareadores de manchas, ao invés de ajudar, pode agravar a condição clínica (escurecendo a pele, por exemplo), devido à sensibilização dermatológica. “A recomendação é sempre procurar um médico, e a partir daí se descobrirá o porquê da irritação para poder tratar”, salienta Danielle.
É preciso prestar atenção ainda, que mesmo cosméticos dentro da validade podem estragar. Isso ocorre porque, às vezes, a embalagem não é bem fechada, é guardada em lugar inadequado ou ainda porque houve a contaminação por bactérias que passam das mãos para o produto. Por isso, é importante ficar atento à aparência, consistência, cor e cheiro.
Com uma oferta cada vez maior desses produtos, aumenta também o número de substâncias diferentes em contato com a pele e, consequentemente, a possibilidade de alguma alergia ser desencadeada. A estudante Ingrid Andressa sofria com descamações, coceira e vermelhidão nos dedos das mãos e demorou para descobrir a causa. “Depois de muito tempo com o acompanhamento de dermatologistas e um alergista, recentemente descobri a que tinha alergia através de um teste de contato. Era à substância thimerosal. Para as reações alérgicas sumirem, tenho que passar pelo menos três meses sem pegar nela, que está presente em muita coisa, de cosméticos a medicamentos. Estou aprendendo maneiras de como evitar o seu uso ou substituir os produtos que eu antes utilizava”, conta.
Raramente alguém descobre uma alergia antes, o comum é que descubram no momento do contato. No entanto, é possível se prevenir. A orientação é que ao utilizar um produto novo, deve-se colocar uma pequena quantidade no antebraço e aguardar por algumas horas. Repita por mais dois dias e, se não aparecer nenhum sinal de irritação, é sinal de que se pode usá-lo normalmente.
O caso de Maria Bernardes foi diferente. Em 2011, começou a perder peso quase que subitamente. Chegou a fazer exames mas não notou nada de preocupante nos resultados. Naturalmente, pensou que fosse algo normal, já que a perca ou ganho de peso é comum na adolescência, então acabou deixando de lado. “Pouco depois, comecei a passar mal ocasionalmente e no ano seguinte isso virou algo constante, dificultando o meu dia a dia. Fiz mais exames e deu que tinha intolerância à lactose. Ainda assim, com os devidos cuidados, não melhorava e muitas vezes ficava de cama, praticamente desnutrida. Então em 2013 fiz uma endoscopia e só então vim descobrir que tinha intolerância ao glúten. Agora, tenho sempre o cuidado de observar a composição de tudo o que uso ou ingiro”, diz.
A alergia pode ocorrer com cremes, xampus, maquiagens, desodorantes, perfumes, e até a esmaltes de unhas. A boa notícia é que existem marcas que possuem produtos na versão antialérgica. A notícia ruim é que não há tratamento. “Uma vez alérgico ou intolerante a algo, sempre alérgico. O que existem são formas de evitar ou acalmar as crises, com a substituição de produtos por outros ou o uso de antialérgicos e cremes com cortisona”, explica Danielle.
“Pode-se também não ter alergia a determinada substância e em determinado momento desencadear uma hipersensibilidade. Não somente no uso externo, mas como oral também. Isso acontece porque o organismo começa a estranhar determinado conteúdo, reconhecendo-o como um corpo estranho, e inicia um processo alérgico, o que não é tão raro. As vezes num primeiro contato, o organismo não reconhece, e a medida que você vai expondo-lhe àquela substância, um contato mais frequente pode fazer com que organismo reconheça aquilo como estranho ou não”, complementa.
Doença celíaca
A frase “contém glúten”, pode ser facilmente encontrada em embalagens de diversos produtos alimentícios. Ela serve para alertar as pessoas portadoras de intolerância ou reações alérgicas a essa proteína, para que não consumam aquele alimento. O glúten é uma proteína presente em trigo, aveia e cevada, sendo o principal ingrediente para uma grande variedade de massas e pães; não engorda e a ciência ainda não comprovou que faz mal ou que esteja ligada ao aumento de casos de doenças graves, como as cardíacas e o Alzheimer. A substância está presente em diversos alimentos ricos em carboidratos e com alto índice glicêmico (que elevam a taxa de açúcar no sangue), como pizza e biscoitos, que podem engordar e aumentar o risco de diabetes. Essas consequências, porém, não são desencadeadas pelo glúten em si, e sim pelo açúcar do carboidrato.
O glúten pode ser prejudicial ao organismo mas, comprovadamente, apenas entre aqueles que sofrem de doença celíaca (adultos e crianças geneticamente predispostos), que afeta uma em cada 200 pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial de Gastroenterologia. Quando um celíaco consome glúten, seu sistema imunológico reconhece a proteína como um inimigo e reage contra ela. Esse ataque atinge o intestino delgado e prejudica a absorção de nutrientes.
Há, ainda, pessoas que não sofrem de doença celíaca, mas que têm intolerância ao glúten. Elas passam mal quando consomem a proteína – diarreia e gases são sintomas comuns –, mas não têm o intestino danificado e não sofrem de uma doença crônica. Esse quadro pode aparecer em qualquer um e em qualquer fase da vida, mas ainda não está claro o motivo pelo qual isso acontece.