UM CARNAVAL DE SUBSÍDIOS
No início de 2025, o Subsidiômetro da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) registrava que os consumidores de energia elétrica pagaram R$ 40.943.412.038,98 em subsídios no ano de 2024. O Subsidiômetro é uma ferramenta digital lançada pela ANEEL que detalha os subsídios que são pagos pelo consumidor na tarifa de energia elétrica e pode ser acessado no portal da Agência. Ele faz uma conjugação de dados que são fornecidos pelas distribuidoras de energia elétrica e pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica).
Esses R$ 40,9 bilhões em subsídios constantes na CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), que representa em torno de 80% dos subsídios totais, impactaram 13,8% em média na tarifa dos consumidores residenciais. Esse valor registrado foi maior que o previsto, que era de R$ 37,2 bilhões, e que representou um aumento de 1,49% em relação a 2023 que foi de R$ 40,3 bilhões. Consistem em políticas públicas que foram aprovadas em leis pelo Congresso Nacional e decretos do Governo cabendo à ANEEL calcular os valores e incluir nos processos tarifários das distribuidoras de energia elétrica. A CDE é gerida atualmente pela CCEE, que recebe os valores, faz o pagamento aos beneficiados, avalia o orçamento anual e faz a apuração dos eventuais saldos e déficits que devem ser considerados no ano subsequente.
Desse total de R$ 40,9 bilhões registrados no ano passado, tivemos as seguintes participações, com seus valores e peso no resultado final:
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Fontes Incentivadas = R$ 12,12 bilhões (29,65%), que podemos separá-los da seguinte maneira: R$ 9,2 bilhões para os consumidores que as utilizam; R$ 2,1 bilhões para consumidores e geradores conectados à Rede Básica; e R$ 0,8 bilhões para empreendimentos de geração.
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Geração Distribuída (GD) = R$ 10,60 bilhões (25,93%)
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Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) = R$ 9,33 bilhões (22,83%)
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Tarifa Social = R$ 4,74 bilhões (11,61%)
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Irrigação e Agricultura = R$ 1,29 bilhão (3,16%)
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Universalização do Serviço = R$ 1,17 bilhão (2,86%)
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Carvão e Óleo = R$ 0,93 bilhões (2,38%)
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Distribuidora de Pequeno Porte = R$ 0,72 bilhões (1,58%)
A CDE está sendo apelidada de “saco sem fundo”, em decorrência do seu crescimento descontrolado e exponencial registrado nos últimos anos. Criada em 2002 através da Lei nº 10.438, comportava R$ 1 bilhão com recursos do Tesouro Nacional e tinha como finalidade prover o desenvolvimento energético dos estados. Em 2015 já somava R$ 22 bilhões e para 2025 está prevista em R$ 40,6 bilhões, totalmente fora da finalidade para a qual foi criada, pois de há muito é o local onde tudo cabe para o consumidor pagar. Entendemos que subsídios para políticas públicas devem ser custeados pelo Tesouro Nacional, pelo contribuinte, e não pelos consumidores de energia elétrica.
Da forma como está, o setor elétrico brasileiro caminha para a sua inviabilidade financeira e, dentre as medidas que devem ser tomadas doravante para minimizar essa debacle, é a não aprovação de novos “jabutis”, como são chamadas as emendas parlamentares alheias ao projeto original. Entretanto, não foi o que se viu ao final/24 e início/25, quando o Congresso Nacional aprovou o Projeto de Lei (PL) nº 15.096/2025 para regulamentar os parques eólicos offshore (em alto mar) contendo 7 (sete) “jabutis” que só fazem onerar as contas de luz:
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Contratação compulsória de térmicas inflexíveis a gás = R$ 155 bilhões
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Contratação compulsória de PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) = R$ 140 bilhões
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Postergação do prazo para micro e minigeração distribuída (MMGD) entrarem em operação com subsídio integral = R$ 101 bilhões
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Prorrogação de contratos de térmicas a carvão = R$ 92 bilhões
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Construção de planta de hidrogênio = R$ 28 bilhões
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Extensão dos contratos do PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica) = R$ 24 bilhões
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Contratação compulsória de energia eólica no Sul do país = R$ 5 bilhões
Esse total somatiza R$ 550 bilhões na conta de luz de 2025 a 2050, criando uma despesa adicional na tarifa de R$ 20 bilhões anuais, um aumento de 9% na conta de luz. Esses montantes foram exaustivamente denunciados em várias oportunidades e, surpreendentemente, a sociedade brasileira não se sensibilizou, muito menos os parlamentares que votaram a favor desses “jabutis”. Atualmente, a gente vê tanta bandalheira sem ação correcional para proteger o lado mais fraco da corrente econômica, que a sociedade parece ter perdido a sua capacidade de se indignar.
Essa falta de sensibilização fez com que a Frente Nacional dos Consumidores de Energia (FNCE) adotasse a estratégia de transformar esses números comparando com o uso da bandeira vermelha, uma estimativa baseada nos custos que incorreram na crise hídrica de 2021. Segundo cálculos da FNCE, juntamente com a PSR Energy Consulting, eles vão representar um aumento de R$ 7,63 para cada 100 kWh consumidos, custo comparado com os R$ 7,87 da bandeira vermelha 2, se utilizada pelo tempo em que durar uma crise hídrica.
O PL foi aprovado no Congresso com 40 votos no Senado e 253 na Câmara. Considerando esse forte impacto no bolso dos consumidores, com reflexo no aumento do custo de vida, o Presidente Lula, na ocasião em que sancionou a Lei em janeiro último, vetou os artigos referentes a esses “jabutis”. Entretanto já existem movimentos dos interessados por esses “jabutis” para fazer o Legislativo derrubar os vetos presidenciais e fazer voltar a redação da lei que foi aprovada no Congresso Nacional.
Para viabilizar os vetos são necessários 41 votos no Senado e 257 na Câmara, ou seja, os vetos presidenciais poderão ser derrubados com apenas mais 1 senador e 4 deputados. E, se o Congresso Nacional insistir nos “jabutis” e derrubar os vetos do Presidente Lula, por 25 anos a conta de luz dos consumidores residenciais vai embutir um custo extra equivalente ao de uma bandeira vermelha 2, que é mais cara, praticamente só aplicada quando da existência de uma crise hídrica. Na avaliação do mercado, a decisão de Lula foi política e, certamente, seus vetos serão derrubados.
UM CARNAVAL DE SUBSÍDIOS
Por Geoberto Espírito Santo
GES Consultoria, Engenharia e Serviços